O pão nosso de cada dia

É assim que me sinto, farta!

Farta de adormecer e acordar no mesmo quarto, de olhar pela janela e ver as mesmas coisas, de respirar o mesmo ar noite e dia, de abrir e fechar os olhos e não ver mudanças. Farta de pensar positivo, de perder a coragem e a esperança por momentos, de esquecer a minha característica e amarga frontalidade, farta de magoar os outros com isso. Farta de ser racional, consciente e adolescente. Farta de exames nacionais e de provas de ingresso. Farta de mau profissionalismos nos hospitais. Farta de apatias. Farta de aceitar defeitos e de fazer ouvidos moucos a insultos e acusações que acabam perdoadas. Farta de ter bom coração num mundo que é um gesto hipócrita. Farta de regras de educação, de palavras bonitas e frases feitas, de plágios ao intelecto e à personalidade. Farta de me sentir presa numa rua fechada quando faço parte de um passeio sem fronteiras e partilho o mesmo espaço que infinitas individualidades. Estou farta de argumentos, causas e consequências. Farta de soluções e opiniões. Farta de crimes, julgamentos e perseguições. Farta de injustiças.

Estou farta de puxar pelo raciocínio, de relembrar tristezas, de mexer os dedos e do barulho do teclado, por isso este veio ao mundo tal como a minha imaginação quis, sem plásticas, sem arranjos, sem nada que não me farte.